não dar nomes as coisas
mas tentar:
criar palavras para
descrever o deitar do sol no rio
imaginar o que as maritacas fazem
no topo das árvores
quando se encontram alvoroçando a
linguagem
enxergar o rio pingando no céu
e fazendo das nuvens
relvas
contar as libélulas que pairam
no tempo
perceber que suas asas
são douradas
talvez roxas
desconfiar que o horizonte
termine em algum lugar
desenhar um poema
de (in)finitude
imaginar que
na verdade tudo isso
está no ponto convexo das
descrições
permanecer no
inverso.
os olhos
do Trabalhador
de esgueio
transpirados
raivosos
me olharam
Estado
que estou
pelas vias
la Lei
seus olhos
nos meus olhos
não vou
esquecer
o Medo
da fome.
seu filho está
vivo?
as duas linhas
arroxeadas
embaixo do teus
Olhos me disseram
Não
sobre(viveu)
a pele preta
desapareceu
foi sepultada embaixo
das tuas pálpebras
corpos de mãe
que vestem Culpas
você me disse
até o arroz
ele vendeu
para sumir
atrás da pedra
virar pó
e existir
agora como número.