Veja um grafo dos poemas de Isabella Paschoal Gonçalves
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Digo que não vou te escrever. Não mais. porque meu coração está com medo. Digo-lhe que parto. que vou embora. Digo alto e claro: eu não devia e não podia. Mas minhas palavras já não valem nada. porque minhas promessas se dissipam e morrem. porque estou sendo guiada por algo que eu não entendo e temo. por algo que foge das justificativas e ilusões. foge e me escapa. foge e me bate. Te escrevo, amor, mergulhada no fogo de uma paixão que renasceu estremecendo tudo. porque no passado ilógico do tempo eu te amei. só que agora, esse passado já não me parece mais tão distante assim. Olhe para mim, amor veja como queimo veja que sou fogo. Queimo na intensidade das palavras que te escondo para te mostrar em um futuro nosso. Não. Tudo o que te escrevo é ilícito e impuro: recaindo em uma infinidade de pecados e loucuras, mas eu continuo. Continuo, porque te quero e isso vence o puro logismo de nossos dias. Então foge. Foge, amor, que te persigo. Foge, entre nuvens e poeiras, que te aguardo. Mas torço, para que em cada uma de suas corridas e escolhas você dê de frente para esta mulher que te escreve. Rezo para que em cada uma de suas fugas, você me encontre despida. Para que em cada escapatória sua, eu surja. Mas ainda sim, desejo que você você fuja. preciso que você fuja. preciso que corra. Corra desse amor impuro. Corra desse amor renascido do pecado. porque eu não fugirei, amor. porque eu não tenho forças. meu desejo me persegue. Fuja, amor, porque sou tua. Fuja antes que nossos corpos queimem. Fuja. Fuja sabendo que te quero ou fique e queime comigo.
Por você perdi as palavras, o sossego, perdi o fôlego. Você tirou minha paz, meu controle, meu logismo, a praticidade rude das minhas ações. Você chegou e me entregou tudo. Me tirou tudo. Bagunçou a racionalidade sufocante da minha vênus capricorniana. Por você deixei pra trás o meu silêncio, a angústia incessante de não dizer. Por você eu tomei coragem, fui imperatriz e soldada. Desbravei minha vênus, esqueci meu ego, meu orgulho, minha farsa, meu jogo. Por você deixei para trás o medo. Me entreguei para o medo. Gritei com o medo. Fui o medo. Deixei o medo. Por você eu engoli a racionalidade astral e fui inteira água. fui inteira sua. Por você perdi as palavras, me entreguei ao desconhecido, ao indizível, à incompreensão incessante do sacrilégio. Por você eu fui inteira, fui humana. Perdi a sanidade, perdi o sentido. Por você me entreguei ao abismo, ao lirismo agudo, à ética poética, aos contos azulados, me entreguei ao misticismo. renunciei tudo o que era passível de lógica, renunciei meu temperamento inconstante, minhas falas imprecisas. Por você eu gritei, redigi cartas de amor, rasguei as cartas de amor, escrevi de novo as cartas de amor. Tomei coragem e te entreguei cartas de amor. Por você eu quis ser uma, quis ser duas, quis ser mais. Por você eu quis mais, sempre mais. Por você eu quis tudo.
Te escrevo, amor. Aqui. Em cartas.
Te escrevo em folhas de um caderno pequeno,
como quem se escreve em segredo, porque te escrever tem sido
o meu mais íntimo segredo.
{É secreto, amor.
Meu desejo por ti é um segredo só meu.}