às vezes a gente não cabe
dentro da gente
e tenta caber
no outro
nos outros
que estão dentro
(e fora)
de quem
imaginamos
que somos
e por não caber
esquece do que estava
de fato
procurando
corta pedaços
se esgarça
se rasga
para ter a sensação
de fazer parte
apalpar a falta de si
é tatear aquela
ferida
de joelho ralado
ao cair de bicicleta
na rua da frente
de casa
quando tudo era
mais
simples
arder para curar
criar nova pele
para crescer
para caber
nas muitas versões
de quem se
é
a poesia
cinge
o ventre
do verbo,
um vórtice
entre
duas realidades:
a do papel-palavra
que enforma
as pausas,
as sílabas,
as rimas
as vírgulas
candentes
na forja
dos versos
e a da voz-imagem
que em aragem
ondulante
de estradas
distantes
vai em busca
do não-significado
nos horizontes
(im)possíveis
da página.