o poeta está morto
não leio no jornal
não vejo nas redes
acordo sabendo que
o poeta está morto
na menina dos olhos
na baça retina
no álcool que evapora
das mãos inúteis
o poeta vai sempre moço
morto morto morto
e nesse mormaço
que o tempo congela
torto como touro ferido
a alma o eleva renascido
é Tânatos alegre
a cores na teve
não é mentira
que ele te veja
pelos olhos teus
sem inocência
Tu o sabes
sem a leveza
das aves
vem de leste
vem d’oeste
desce e sobe
de Norte a Sul
a mal que vem
matamouros
ergue muros
Tu o sabes
sem a clemência
dos peixes
sombra meridiana
de veridiana
consistência
que subsiste
obscura e inferior
da alma à tez
Tu o sabes
com teus pés
de lagarto
O trigo disputa com o sol
o dourado do horizonte
o vento seco faz-lhe a dança
como as ondas agitam o mar
essa vista cansa da eloquência
que trigueiro domina o olhar
as máquinas que o navegam
autômatos ilimitados de metal
engolem céleres as espigas
e vendem homens
na Bolsa de Londres
Kerouac
foi Macunaíma
no peito
de Wall Street
na city
Mano
não ceda
que estreito
é o caminho
a gente lança
a gente corre
a gente dança
não morre a luta