ATÉ QUE A VELHICE NOS APAGUE
O mundo incendeia lá fora
Mas eu sinto frio
sinto o frio no coração
O gelo da solidão
Essa solidão perversa
Que mata a nossa alegria
E finge que vai embora
Escondendo-se atrás da porta
Nos deixando mais mortos
Mortos em vida
Até que a velhice nos apague.
POEMA AOS ACOMODADOS
Relaxa, vai dar tudo errado,
Vai para a rede e te afunda
Pende a cabeça de lado
A escarradeira imunda
Espera teu escarro
Cospe a gosma do cigarro
Depois tosse, tosse muito,
Até que o diabo te carregue.
BRINCAR DE TEMPO
Minha filha acha que o
dia demora muito
eu acho nada
minha filha estuda
brinca
brinca
brinca
eu quase nada
minha filha precisa me emprestar
a sobra dos seus dias
A PELE DO ABISMO
Ando sobre a pele de um abismo
como quem anda numa fina camada de gelo de um rio
vejo o perigo debaixo dos meus pés
Um cão raivoso ladra na margem direita
Um hipopótamo me espreita na margem esquerda
Atrás de mim um dromedário rumina
Na minha frente a esperança
me faz arriscar atravessar o medo
e tirar a cortina de pedra dos meus olhos.