Veja um grafo dos poemas de Elieni Cristina da Silva Amorelli Caputo
Meus sonhos são a repetição do abismo onde meu corpo é lançado e fisgado em loop infinito
VÃOS Agora o tempo se esvai, calmo e degredado. A chama da vida se parte na face do homem arruinado. As orações ecoam no cerrado, cruzam abismos e riachos, deságuam. A quietude da sombra segue o passo do rebento: encolhido e pequeno, estica-se a cada passo. Seu silêncio fora rompido pelo primeiro balbucio, centelha do verbo divino acesa, humano apartado do infinito, do instinto. Caem sóbrias as flores na alameda. Seu som vazio ecoa na terra, sem testemunha. Todos dormem ao romper da aurora. O gado magro deita-se resignado na relva ressequida do cerrado. Ontem não mais existia. O futuro é uma mentira. Do pó renascem a pérola, a criança faminta – na brisa perdem-se os dias.
Meus sonhos caíram sob o olhar de elefantes negros. Submergiram, repousaram e do barro renasceram – são agora pássaros profanos que entoam seu canto pra mulher banida dos sonhos humanos. A mulher sonha que é animal, feito de sangue, couro e sal. Na mata, ela alia-se ao espírito ancestral, entoando um hino maldito que convoca do ventre da mata a serpente e seus anjos caídos.
Quando fumava, evocava memórias antigas: algumas feitas de ferro, pressionavam a parte fina do coração. Memórias em brasa, desejava extirpá-las a cada tragada, mas parecia injetá-las. E quando fumava, a cada baforada, percebia que não esquecia a tristeza. E quando apagava o cigarro, o esquecimento não tomava a forma da fumaça. E não se apagava. Assim se despedia do que nem sabia, à mercê do rio da vida, que deságua no esquecimento e num dia que não me lembro.
A sombra é um ato de silêncio dissolvida no tempo apago a luz retorna quando a esqueço pequena e deformada como a angústia se apaga quando durmo e desapareço A cegueira desconhece a sombra
Não escrevo carta Nem diário. É mudo Sem moldura Meu passo Leve e bailarino. Todo meu dia é de morte. Como sombra volátil, Meu passado.