O ódio não cabe no poema O ódio branco no copo no leite o copo o leite o leite transborda O ódio branco não cabe no poema É preciso estender o poema.
Pai nosso escute A minha oração Pai! Desde a minha nascência A minha vida repleta Está de turbulência Mas na tua graça Tenho na minha consciência Que a minha vida Seria uma desgraça Sem a tua benevolência O coração muito dói-me pai O coração muito dói-me Por saber que muito pequei E infelizmente pouco a ti busquei Peço perdão pai Peço perdão Pelos os meus pecados E que não faças menção De toda a minha transgressão Pois tenho dentro de mim Uma alma que muito clama Que a tua palma Sobre a minha vida Continue estendida Oh pai! Nessa triste e curta caminhada Nessa triste e curta caminhada Que é a vida A imundice a mim persegue Mas na tua graça Não me consegue Porque de perseverança O meu coração repleto está E de gratidão o meu cálice transborda E a ti agradeço Pois não mereço Mas tenho Mesmo não merecendo Tenho o teu infinito E ousado amor Mesmo que o mundo Só me transmita dor E o teu amor pai O teu amor É o que faz-me insistir Em persistir, para não desistir De existir, e deixar fluir em mim O teu existir Que o mundo se ajoelhe a ti E que a tua graça resplandeça Com a tua presença Que a esperança exalte a tua força E que ela cresça Nesse mundo cheio de crenças Oh pai! Escute a minha humilde oração Pois ela vem de todo o meu coração
Retirante de terras distantes Daqui fez cenário de epifanias Da prosa, um jardim de rosas Em espinho, vincos dilacerantes. Seus laços, deixados ao salto de planos Resistem à prova do tempo soberano Palavras cruas e certeiras Nunca em busca de certezas Contra rios, inimiga do óbvio A ela, rocha se torna pluma Capitu ucraniana (nascida), pernambucana (escolhida) De olhar enigmático, penetrador Transcendente narrador Em chamas a mente lança E magistralmente desnuda, À luz de penumbras, Cada sentimento que nos apossa. Fotografias entre preto e branco Como lavar-se de tamanho encanto... Um século de seu advento E como esplendorosa supernova Sua estrela mostra não ter hora. 2020 | Salvador, BA
Reminiscências do útero Nossa história é parecida. Tornei-me pessoa na água e desde então vivo do ar, vivo no ar. A vida é uma onda gigante ora se espalha, ora retrai. Ora a vida me leva, ora levo ela. minha presença não faz diferença, exceto quando o centro da terra balança como um acalanto uterino, quando não respondo por mim.
Em fome serviram o Salvador E quão tribulações que tiveram E quão tribulações que tolheram Em sede serviram o curador Apóstolos de Cristo o pregador E mártires de Cristo morreram E quantos seguidores sofreram E santos no deserto provador Que venha sofrimento repressões Espero no senhor a salvação Estamos no caminho em procissões Seguindo a direção da redenção Se falho reconheço em confissões E firme permaneço na oração
Sou um céu cinzento em um campo de margaridas douradas, E não consigo pensar em mais nada, Além do quanto eu me aprofundo em você e mesmo assim não sei o seu nome Sinto os anéis em volta dos meus dedos, Os carros começaram a se mover muito rápido, Minhas pernas grudam na minha pele, Meu cabelo encosta nas minhas bochechas, Eu consigo me sentir cega, E mesmo assim continuo a derreter, Tentando conter os pedaços quebrados com minhas mãos amparadas Talvez você não compreenda o quanto eu tentei te entender, Mas eu não consigo aceitar nada que não é meu E não venha me chamar de egoísta, Quando se está acostumado com o privilégio, a igualdade parece opressão Uma pequena parte minha ainda se pergunta Porquê foi tão fácil você desistir de mim, Eu só queria sentir algo, Algo diferente do que a chuva caindo lá fora, O ar que me sufoca nesse silêncio ensurdecedor E a completa solidão em se perder nas próprias imaginações, Procurando palavras de consolo que confortem a velhinha tomando sol, o grupo de amigos felizes, os jovens adultos perdidos em um amor como o nosso É difícil atravessar as ruas com a ventania, E dançar com a sua sombra parece justo quando procuro seu rosto por cada sala que eu passo, Mas acho que seus olhos nunca foram meus, Queria que você me olhasse igual olha para ele Afinal, quem mais secaria minhas lágrimas Quando meus olhos caíssem do rosto? Pensar demais acaba matando a felicidade, Mas eu nunca estive errada sobre tudo isso, Inclusive sobre você.
padeço da falta de tempo ou acostumei-me a dizer que não o tenho? em meio a obrigações e tolices cotidianas deixo escapar poemas que nunca mais nascerão uma ideia perdida não volta é poeira na ventania faço listas, pixs, transferências e pago boletos conto dinheiro e às vezes esqueço de respirar então invento pausas para dizer que o poema cabe no tempo sem poesia, a vida se perde
Meus sonhos são a repetição do abismo onde meu corpo é lançado e fisgado em loop infinito
a tarde se estende feito um rio canalizado em avenidas perdidas. corredores que emendam esquinas, refúgios, amores vãos, verbos tecidos em lençóis de hotéis baratos. anseios mal intencionados, carregam imensa questão: aqui estamos ainda incertos do que será - manter a forma ou primar a rima? faço as pazes com a dúvida. deixemos tudo no chão, esse acúmulo de luares e palavras infames. versos repetidos habitando nossa boca como uma memória sem ruído. sentença de existir para entender o possível: transformar arte em lugar. quadro que sustente o corpo desvestido de rosto ou nome. DNA da saliva presa numa xícara de café ou na tampa da caneta. quem sabe de nós imersos na cidade a ouvir oráculo das runas? no futuro da hora pisamos sobre as coisas que já não cabem no mundo.
não dar nomes as coisas mas tentar: criar palavras para descrever o deitar do sol no rio imaginar o que as maritacas fazem no topo das árvores quando se encontram alvoroçando a linguagem enxergar o rio pingando no céu e fazendo das nuvens relvas contar as libélulas que pairam no tempo perceber que suas asas são douradas talvez roxas desconfiar que o horizonte termine em algum lugar desenhar um poema de (in)finitude imaginar que na verdade tudo isso está no ponto convexo das descrições permanecer no inverso.
Peças d’alma anima, instinto extinto animal corpo físico, etérico terra, água, ar e fogo cabeça, tronco, membros éteres éter vital, químico e calórico vegetal fruto, semente, caule, folha e raiz mineral sensível, visível, mensurável, suprassensível cosmos lua, planeta e sol Eu pensar, sentir e agir ir para o mundo no carinho do amor mundo p'ra novos mundos travessias onde for
Acho que esbarrei em alguém ou em algo Não sei dizer Nem lembro de acontecer Talvez imaginei? Algo comum do meu ser Talvez esqueci? Isso eu vivo a fazer Um cheiro agradável Esta úmido, esta frio Uma sensação memorável A primeira gota cai Para complementar esse trio Chuva que vem Para relembrar minha essência Corpo que se prendeu Em estado de inercia Mente que vive Em tanta divergência Estou encharcada Enlouquecida e machucada Continuo intocada pela sensatez que faz falta Nem lembrava de estar viva Achava que nela mandava Só sou uma garota perdida Em crise, no meio do nada
Voltei a Israel e encontrei algumas mudanças Mas será que foi mesmo Ela que mudou ou será que fui eu? Voltei para o Meio do Mundo No ponto de intersecção entre o novo e o velho Existe um cheiro no ar Um cheiro que não sei o que é, nem de onde vem, mas que só Ela tem Já procurei, mas não encontrei Não é um cheiro que se encontra para vender É o cheiro do ar, Do mar, Das águas, Do suor Mas dessa vez eu quase não senti o cheiro Ele estava discreto, escondido entre suas ruínas Eu não gosto de deixá-la e nossa despedida é sempre muito triste Mas eu sempre volto Eu nunca sei quando será a próxima vez Mas eu sempre volto para o Meio do Mundo Para o Meio Oriente Para o Oriente Próximo Que eu gostaria que fosse mais próximo Mas quando ela precisa de mim eu cruzo mares, montanhas e desertos para vê-la A minha Israel
Somos um só Nós os dois um só, Enrolados no nosso amor tipo um nó Somos um só,um só corpo Um só sentimento Um só comprometimento Um só livramento Somos um só, Eu sou você, tu es eu A nossa cumplicidade é do tipo Julieta e Romeu Es poesia, eu harmonia Música, eu melodia Alegria em dicotomia Somos um só É estranho porque apenas nos conhecemos a meses Mas os nossos pensamentos são gêmeos siameses As vezes, Viajamos juntos Voamos juntos Somos um só, Entre nós não há lutas Quando te espalhas eu te junto E quando me espalho tu juntas Sem sombra de dúvidas Somos um só Vejo no nosso eixo, duas pessoas com a mesma alma, O meu é o teu desejo, é mesma a chama Com aroma da fumaça que nos chama Com, ou sem aquela nossa cama Somos um só, Reflexo do verdadeiro amor Nexo no sentido do mesmo amor Raíz da mesma flor Prazer da mesma dor Numa só estrutura Numa só figura, Numa só ternura Numa só bravura, Somos um só…
Lá nos pântanos Jazem flores sem cântaros Na companhia dos pássaros Lindos viajantes Lá nos recantos da cidade Onde abunda oxigénio E o gênio da vida Dormem flores sem jardineiros Apenas velhos fazendeiros Que nem sabem o que fazem Lá no coração da floresta No mais profundo vale Jazem muitas flores Clamando por socorro Alimentando-se das pequenas gotas de água E das migalhas de pão que restam em seu lar, Seus olhos brilhantes, Olham aquele nascer do sol radiante, Com um ruído estranho na barriga, Sustentam-se com um sorriso e uma brisa Sentados mais uma vez a rua Cantando como sempre!
O corpo é só um corpo O corpo não é amor Aceitar que é assim e pronto Aceitar e saber onde pôr: Onde pôr o corpo que não tem mais vida, Onde pôr a vida que não tem amor. Onde pôr o amor que o corpo convida, Quando ganha corpo a dúvida, senhor?
Barriga chapada Cabelos compridos Corpo magro E braços finos Além de carregarmos inúmeros problemas Criam novos pras nossas pequenas Mulher sou e sempre serei Com a dor de ter um útero conviverei “Um bicho que sangra todo mês não é de Deus” Mas cuidado ao usar uma saia Porque eu não consigo conter o pequeno Zeus “Vai se cobrir sua pirralha!” Engraçado né, sou obrigada a me cobrir Sendo que são os garotos que não sabem como agir Sou obrigada a emagrecer Para assim ser aceita ao você me ver Sou obrigada a sangrar Lavar roupa, a louça, a trabalhar Mas mesmo assim um salário menor receber E nunca igualdade ter Sou mulher sim E a sua opinião nunca vai me mudar Sai pra lá seu macho escroto Vai estudar! Luto pelos meus direitos de igualdade E ainda assim mantenho minha classe Posso até dizer que sou uma super heroína Até mesmo quando uso meia fina Na boca eu passo a linha Sem poder nunca encurtar a minha roupa Oh, vida louca!
Sinto muito… Sinto ódio, rancor Tédio, pavor do brilho de uma flor Medo da dor, Do prazer do verdadeiro amor Eu sinto o fardo dos oprimidos Os bastardos, os excluídos Mas também sinto alguma angústia Algumas dúvidas, Será que a paz vai bater em minha porta? Será que as barragens da vida trazem comportas? Sinto muito, Sinto o fim do mundo Sinto o peso do submundo Eu sinto muito, Sinto o escuro do cego O silêncio do surdo Quieto como se eu fosse mudo Irmão, sinto muito… Sinto pela perda dos nossos heróis Sentado na praça dos heróis Eu sinto muito, São sentimentos do tipo tormentos Fundamentos sentidos sobre os meus sentidos Sinto muito… Na verdade, Eu sinto que na verdade, Fundamentalmente não sinto nada Sinto um vasio literalmente nadando em nada No panorama da minha existência Dentro da conferência Entre a lógica e a minha consciência Há também abundância de violência Desculpe, eu sinto muito!...
INFERNO ASTRAL Sonhei que estava vacinada Corria livre pela rua Só eu que estava imunizada E era eu que acendia a lua Tinham me dado esse poder De fazê-la cheia ou minguante Eu esperava o anoitecer Pra deixar o breu cintilante Mas mesmo com o céu bem aceso A cidade estava vazia Passei a sentir todo o peso Das noites e da astrologia Tentei abrir mão do meu posto Ninguém na cidade queria O cansaço estava em meu rosto Nem mesmo escrever conseguia E assim, numa noite esquisita Não fui! Deixei todos no escuro... E uma voz (pareceu bem aflita) Veio me chamar pelo muro Não vou! Respondi, decidida. “- Só vim pra saber se está bem Senti falta da luz, da vida Que a tua energia contém. Sem medo da noite ou do escuro Queria saber só de mim Cedi, sem pensar no futuro Ou no meu passado sem fim Do vírus, sabia o segredo Voltei a escrever, fiz um verso Nós dois nos beijamos sem medo E a lua acendeu pro universo
Olha Não sou crente do amor. Olhares pra mim não Dizem quase nada. Só dor. Sem intenção acabo seu Mundo Peço desculpas Quase eternamente. Derrubei teu Deus. Matei tua mente. Caminho escuro à frente. Não chore, jovem. Precisa mais de realidade. Vida latente. Mundo lá fora louco. Morte de idealizações. Seu príncipe encantado Já digo Tá morto Então não espere O mundo de fadas te encontrar. Nunca se dará. Infelizmente.